O custo em tempo


Durante a hora de almoço de hoje, estava a aproveitar o dia lindo de sol que se fez sentir com uma amiga. Fomos caminhar à beira-rio. Para a conversa eram trazidos temas aleatórios e descontraídos. Houve uma altura, em resposta a uma afirmação, que eu disse:

- Isso custa meio mês de trabalho...
O comentário passou. O tema continuou descontraído. A hora do almoço passou.
A verdade é que fiquei a pensar no facto de tudo na nossa vida ser adquirido com horas da nossa vida. E quando o consumo é colocado desta forma toda uma nova perspectiva se levanta.

A roupa que vestimos, o telemóvel, a televisão, os cremes da cara, do corpo. do cabelo, dos pés (embora façam parte do corpo há cremes específicos), a comida... aquilo que consumimos para viver, assim como os nossos caprichos, custam-nos minutos da nossa vida. Se a cada compra que ponderamos fazer colocarmos no lugar do preço as nossas horas de trabalho, que são horas da nossa vida, o mindset com que a encaramos vai com certeza sair alterado.

Colocando as coisas de uma forma mais gráfica:
  • Supondo um salário de 1000 EUR mensais ganhos em 160 horas de trabalho
conversão - euros para minutos de trabalho/vida (valores aproximados)

- Um café (0.80eur) custa-nos aproximadamente 7 minutos de trabalho;
- Um batom do cieiro (4eur) - 38 min/trabalho
- Compras do mês (100eur) - 690 min/vida (cerca de 11 horas!)
- Refeição uber eats (12eur)- 115min/vida
- Sumo de laranja natural (2.5eur) - 24min/trabalho
-Consulta médica (40eur) - 384min/vida ("gastamos vida" para ter dinheiro para ir ao médico lol)
- Gasóleo (1.39/litro) - 13min/trabalho/litro

(...)

Nuns itens coloquei, min/trabalho ,noutros min/vida. É equivalente. 
Foi de propósito, para que se percebesse o valor. Minutos de vida soa demasiado dramático, mas esfrega melhor a realidade na nossa cara.

Não quero mesmo soar a drama queen, e de certeza que não estou a trazer nenhum tema novo. Na verdade eu já tinha colocado o "preço das coisas" em "horas de trabalho", mas que é interessante fazer este exercício é.

Claro que muitas das coisas são "investimentos" e que a vida não se faz sem consumo. 

Queres comer? Paga. Ou cultiva, mas paga as sementes. 
Queres ver televisão, compra a televisão e se 4 canais não chegarem, paga um pacote de canais e, se ainda assim não for sufuciente, paga a NETFLIX (134min/trabalho).
Queres andar de carro, paga a gota. 

Temos que encarar que da vida faz parte o trabalho e este não pode ser pensado apenas como uma obrigação. Que seja também de desenvolvimento e gratificação pessoal. Mas a verdade é que passamos a maior parte do TEMPO a TRABALHAR, por muito que se goste do que se faz há-de existir sempre este conceito de tempo-vida-custo.

Não sou um guru das poupanças, continuo a gostar de dizer que "invisto" nas coisas que compro mesmo que seja um tupperware para fazer arroz. É sempre uma almofada mental dizer investimento. (já agora, o tupperware para fazer arroz é top!). Na verdade não investimos nada, só gastamos. Quanto muito investimos no nosso estilo de vida, naquilo que queremos ter para satisfazer as nossas necessidades (cada um com as suas).

Estive com isto tudo para chegar aqui e dizer: nada contra o trabalho, nada contra o dinheiro, nada contra o consumo, nada contra nada. É apenas um exercício castiço.



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